Palestrantes destacam papel social do conhecimento e convocam mobilização da comunidade científica para que o país enfrente desafio da educação básica de qualidade.
(foto: T.Romero)
Depois de seis décadas, a maior reunião científica da América Latina está de volta a Campinas (SP). A cidade no interior paulista sediou em 1949 a primeira reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), fundada no ano anterior.
Com o tema “Energia, ambiente e tecnologia”, a 60ª edição do evento foi aberta na noite deste domingo (13/7), no Centro de Convenções da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em cerimônia que recebeu mais de mil pessoas.
A previsão dos organizadores é que o evento, que terá cobertura diária da Agência FAPESP, receba um público de aproximadamente 15 mil pesquisadores, docentes e estudantes do ensino superior, médio e fundamental.
A reunião foi aberta por cenas de um documentário sobre o papel da SBPC como um dos únicos fóruns de debates democráticos da sociedade brasileira durante os anos de regime autoritário. Em seguida, Marco Antonio Raupp, presidente da SBPC, enfatizou o papel da entidade como espaço de expressão democrática da sociedade brasileira e destacou que a instituição continua cumprindo sua missão de discutir os impactos sociais da ciência.
“O tema da reunião deste ano remete a alguns dos principais desafios do país. São temas que precisam ser discutidos com consciência social por quem produz conhecimento. Queremos desenvolvimento econômico, mas não a qualquer preço. É preciso que ele se apóie na sustentabilidade econômica, ambiental e social”, disse.
Raupp também destacou o engajamento da instituição no trabalho na ampliação da educação em todos os níveis, para atender às necessidades econômicas e sociais da sociedade brasileira.
“Queremos uma revolução educacional em larga escala. O desenvolvimento sustentável e a economia do conhecimento são os pilares de um país que quer encarar o desafio de uma educação e qualidade massificada. Por isso a SBPC está aberta às discussões sobre novos caminhos, idéias e mecanismos que acelerem essa revolução”, disse.
Jorge Almeida Guimarães, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior (Capes), contou que o Ministério da Educação está lançando uma convocação para que professores, pesquisadores e estudantes ajudem a corrigir os rumos do ensino básico no país.
“Os três principais desafios da educação são a restauração da qualidade do ensino médio, o problema da questão regional, com ênfase na capacitação de recursos humanos para a Amazônia, e o avanço da relação da universidade com o setor industrial”, disse.
Para combater os problemas da educação básica, segundo Guimarães, Capes e MEC contam não apenas com a ajuda das entidades científicas, mas também com a participação do movimento estudantil. “Convocamos a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) para unir esforços por essa causa”, disse.
A presidente da UNE, Lucia Stumpf e o presidente da ANPG, Hugo Valadares, foram convidados pela organização da SBPC a discursar na abertura do evento. Ambos reivindicaram uma reforma universitária e mais investimentos. “Queremos uma universidade privada regulamentada e um ensino público mais forte”, disse Lucia.
Promoção da inovação
Sergio Rezende, ministro da Ciência e Tecnologia destacou que o trabalho da SBPC, ao longo dos últimos anos, tem inspirado a elaboração da política nacional de ciência e tecnologia. “Por esse motivo em especial gostaria de congratular os 60 anos bem vividos da entidade e desejar vida longa, através de todos os seus dirigentes, a essa grande sociedade”, disse.
Resende lembrou que no primeiro mandato do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a política nacional de ciência e tecnologia se baseou em quatro eixos centrais, entre os quais uma maior expansão geográfica do sistema de C&T e o incentivo à política industrial e tecnológica de comércio exterior.
“Os outros dois eixos são as áreas estratégicas nacionais, com ênfase para a Amazônia, o semi-árido e os setores espacial e nuclear, e as ações voltadas para a divulgação e melhoria da ciência e tecnologia, de modo que essas duas venham a contribuir para desenvolvimento nacional”, salientou.
Segundo Rezende, a experiência adquirida com a criação desses eixos estratégicos levou à elaboração do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) voltado à Ciência e Tecnologia, que pretende investir mais de R$ 40 bilhões em pesquisas e capacitação científica até 2010.
“Esse plano de ação foi criado não apenas como uma política para o MCT, mas como uma política para o governo federal como um todo, que envolve vários ministérios e grandes parcerias com agentes estaduais para uma maior integração nacional. Trata-se de uma política de Estado e não de governo”, afirmou.
“A nossa expectativa é que a promoção da inovação tecnológica nas empresas, que é um dos grandes desafios desse novo plano de ação, seja uma das iniciativas que se consolidem nos próximos anos. Para isso já contamos com muitos instrumentos e parcerias com estados, em especial com o de São Paulo, por meio da FAPESP”, disse o ministro.
O anfitrião José Tadeu Jorge, reitor da Unicamp, comparou a evolução do número de participantes das reuniões anuais da SBPC. “A primeira edição da reunião contou com pouco menos de 150 participantes e esta tem um público esperado de cerca de 15 mil pessoas. Isso é prova da evolução das atividades de pesquisa e inovação ao longo das últimas décadas, mas mostra também a dedicação de muitos brasileiros ao desenvolvimento do conhecimento novo”, assinalou. A primeira reunião da SBPC foi realizada em outubro de 1949, no Instituto Agronômico (IAC), em Campinas.
Carlos Vogt, secretário do Ensino Superior de São Paulo, que representou o governador José Serra, fez votos de que a 60ª edição da reunião consiga transcorrer dentro de um ambiente fértil de produção de conhecimento por meio da apresentação de teses e novas idéias. “Essa rica produção tem caracterizado as reuniões da SBPC em sua luta pelo conhecimento e em sua luta histórica pela democracia no país”, disse.
O evento teve ainda homenagens ao geneticista Crodowaldo Pavan e ao físico Sérgio Mascarenhas de Oliveira. Além deles e dos palestrantes, participaram da mesa de abertura o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Jacob Palis, e os organizadores da 60ª reunião, Marcelo Knobel, do Departamento de Física do Estado Sólido e Ciência dos Materiais da Unicamp, e Eduardo Guimarães, do Departamento de Lingüística da Unicamp.
Vasta programação
A programação, dividida em 17 núcleos temáticos, aborda o tema “Energia, ambiente e tecnologia” de forma transversal em quase 300 atividades, incluindo conferências, simpósios, mesas-redondas, minicursos, apresentação de pôsteres, encontros de sociedades científicas, assembléias e sessões especiais.
A reunião contempla ainda a SBPC Jovem (com 200 atividades voltadas para crianças e adolescentes), a SBPC Cultural (com manifestações de artistas da região), a ExpoT&C (com estandes de empresas e instituições ligadas à Tecnologia e Ciência), a Feira do Livro e a Feira de Artesanato. A Unicamp contará com o envolvimento de mais de 300 estudantes que prestarão monitoria nas mais variadas atividades da reunião.
A educação para ciência no ensino básico terá um enfoque especial, constituindo o tema de 13 atividades. Diversas sessões discutirão a importância dos 60 anos da SBPC, do centenário da emigração japonesa e do Ano Internacional do Planeta Terra.
Os núcleos centrais de discussão serão voltados para temas como “60 anos da SBPC”, “Etanol de cana-de-açúcar”, “Conhecimento, desenvolvimento e inovação tecnológica”, “Aquecimento global e ambiente”, “Biodiversidade e conservação”, “Darwin: 150 anos da origem das espécies” e “Experimentação com animais de laboratório”.
Também estão na pauta dos núcleos temáticos os tópicos “Pesquisa científica e legislação brasileira”, “Educação para a ciência no ensino básico”, “Cidade como espaço social”, “100 anos da imigração japonesa”, “Programa CBERS”, “Multidiversidade cultural”, “Saúde pública: doenças endêmicas”, “O papel da Embrapa na produção de biocombustíveis” e “Ano internacional do planeta Terra”.
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