A fotografia no meio escolar: colecionando mundos


"A Fotografia no meio escolar pode tornar-se uma nova maneira de olhar as Artes Plásticas, pois os alunos, por vezes, desconhecem que este meio de comunicação faz parte de repertórios dos trabalhos de muitos artistas, passando da mera fotografia de álbum de família, casamento, um dia de passeio, enfim, para entrar no universo que nos cerca: o universo das Artes Visuais".


Construir um mapa potencial de olhares visuais e culturais para a cidade mediando conhecimento sobre arte contemporânea por meio da produção fotográfica do artista brasileiro Araquém Alcântara. Este era o objetivo a ser concretizado através do Projeto "A fotografia no meio escolar: colecionando mundos" desenvolvido no Instituto Estadual de Educação, no centro da cidade, e que abrange turmas de alunos de classes médias distintas e idades variadas, formada por turmas que vão desde as Séries Iniciais até o Ensino Médio.

A classe participante do Projeto reúne alunos do 2º ano do Ensino Médio com idades entre 15 e 17 anos. O tema do Projeto foi escolhido para que o conhecimento dos alunos fosse ampliado no sentido de conhecerem a linguagem da fotografia como meio artístico entre os outros tantos meios, estabelecendo conexões entre produções fotográficas que envolvessem a natureza, a descoberta de novos olhares sobre o espaço no qual vivemos; a ‘coleção de mundos’ feita através de uma câmera.

Partindo do ponto amplo desta linguagem, que é a sua utilização nos meios de comunicação, como forma documental e de informação, conversamos sobre o que vemos nas ruas, outdoors, cartazes, televisão, mídia impressa, cinema, álbuns de família, internet, etc. Após a apresentação de um DVD contendo imagens fotográficas em tópicos como composição, mídia, e fotografia artística, percebemos que a fotografia está inserida em nosso cotidiano de várias formas e, além disso, podemos encontrá-la em museus, galerias e espaços artísticos, refletindo então sobre ela no campo das Artes Visuais.

A apresentação das imagens primeiramente sem áudio, depois na íntegra com o documentário do fotógrafo Araquém Alcântara, um dos títulos da DVDteca Arte na Escola, possibilitou que algumas questões fossem dirigidas aos alunos, fazendo com que refletissem sobre o que estavam observando. Como foram feitas as imagens? Por um amador ou um profissional? É possível encontrar beleza no horror? Onde? Que exemplos de ‘beleza presente no horror’ podemos encontrar no dia-a-dia? Conhecemos estes lugares fotografados pelo artista? Podemos dizer que Araquém Alcântara é um colecionador de mundos? As respostas destas questões nos direcionaram a um diálogo finalizado com a construção de um questionário elaborado para a fotógrafa convidada a visitar a turma na próxima aula.

Beth Lisbôa é fotógrafa de natureza e seus trabalhos focam especialmente as condições de sobrevivência no mangue da Ilha de Santa Catarina. Estabelecendo relações com o trabalho do fotógrafo em pauta, Beth Lisbôa visitou a turma conversando com eles sobre a sua produção artística, os equipamentos utilizados, as dificuldades em fotografar nestas regiões, os resultados das imagens, a intencionalidade existente em cada uma. Enfim, aspectos que envolvem a linguagem fotográfica em seu processo de criação. Num interesse aparente à conversa da fotógrafa, os alunos fizeram perguntas à Beth Lisbôa que, por sua vez, respondeu ao questionário elaborado por eles na aula anterior.

Procurando conectar as produções fotográficas de Beth Lisbôa e Araquém Alcântara, os alunos fizeram um pequeno trabalho, o qual era formado por três imagens, escolhidas por eles, e um texto construído por respostas a questões presentes num “roteiro”. Cabe comentar que nesta aula a participação dos alunos foi surpreendente e a relação aluno/professor tornou-se mais estreita devido às conversas existentes com cada um, no auxílio a perguntas que eles tinham a respeito dos trabalhos conhecidos nas aulas. Este trabalho serviu também como uma espécie de avaliação e revisão das aulas anteriores, possibilitando que algumas dúvidas surgidas deste trabalho fossem esclarecidas posteriormente.

Após estabelecidas as relações entre os trabalhos dos fotógrafos e também da mídia impressa, chegou a hora de pegar as câmeras fotográficas e buscar os melhores ângulos para produzir imagens ao redor da escola. Os alunos saíram da sala de aula e, com equipamentos em mãos, procuraram as melhores imagens para serem expostas em um painel, relacionando seus trabalhos com tudo o que foi visto, refletido e dialogado durante as aulas de atuação do Projeto. Nesse dia, a turma sentiu-se livre não só pelo fato de estar fora da sala de aula, mas também por poder pensar a fotografia, pensar nos elementos que os fotógrafos profissionais levam em conta ao fotografar, bem como na poética pessoal.

Cada um devia ir ao encontro da natureza presente na escola, natureza que rodeia o cotidiano desses alunos, relembrando o documentário de Araquém Alcântara, a beleza existente no horror, a importância da preservação, as dificuldades em fotografar animais conforme comentou Beth Lisbôa, a iluminação (que por sinal estava maravilhosa!) e todos os outros elementos essenciais para se ter uma boa fotografia. Impressas as fotos dos alunos foram expostas num painel dentro da sala de aula, e cada um comentou sobre suas imagens, como pensou na composição e poética das fotos; sobre as aulas, o que aprendeu e o que gostaria de aprender a partir do que foi visto! O caminho percorrido neste semestre, chegou próximo ao esperado, trouxe boas surpresas, muito auxílio, tanto de professores, colegas de faculdade quanto, talvez principalmente, dos alunos que participaram do Projeto de forma tão interessada! A relação professor/aluno estreita-se na medida em que as perguntas de ambos se entrelaçam: o professor provoca o aluno a pensar nas respostas possíveis, o aluno provoca o professor com novas perguntas...

Estar diante de jovens dispostos a aprender, é sentir a possibilidade de ‘esticar’ o seu próprio conhecimento, é sentir-se pronto a pesquisar um tema de comum interesse, é estar preocupado em acertar e preparado para os eventuais enganos durante o processo ensino/aprendizagem. A conquista do interesse de um aluno tem seu ponto de partida na própria reflexão sobre a forma de mediar a arte, deve partir da paixão existente entre o sujeito mediador e o objeto estudado, deve partir das experiências vividas em arte! Depois disso, os alunos sentem-se encorajados a sair em busca dos melhores olhares que possam ter sobre tudo o que foi compartilhado através do diálogo...

Fonte: Arte na Escola
Autor: Priscyla Raquel da Silva
Contato: pry_bnu@hotmail.com
Instituto Estadual de Educação
Florianópolis - SC
Data: 20/07/2008

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