Será admirável o nosso novo mundo? A quem serve esta civilização que se diz moderna e funcional e, ao aparato das técnicas, sacrifica o espírito? ... O espírito, considerado realidade menor, o espírito tolerado, quando não reprimido... Qual, o lugar do homem, numa sociedade dominada pela máquina? ... Mundo novo? Mundo intolerável? Mundo inabitável? Mundo de onde se deve fugir, de qualquer maneira? Ou, mundo a reconstruir- pedra por pedra? Com uma pureza reconquistada?
Trecho da apresentação feita pelos editores da Editores Associados, em Lisboa/Portugal, para o romance “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, publicado em 1932.
Há muitas lições para se tirar desta obra, para refletir e compreender os dias atuais. As situações vividas pelos personagens apresentam grandes semelhanças com o que vivemos atualmente.
Você já reparou o excesso e a rapidez como as informações chegam até nós? E é quase impossível afirmar que podemos passar um minuto sequer sem lidar com algum tipo de informação.
Já parou para refletir e se perguntar em que o mundo que conhecemos há bem pouco tempo atrás, e este em que vivemos hoje, está se tornando? E ainda é o mesmo mundo!
É verdade! Há algumas décadas atrás, o seriado de televisão “Jornada nas Estrelas”, o filme “2001, uma odisséia no espaço” entre outras grandes produções tratadas como Ficção Científica povoaram o imaginário das pessoas com as idéias e possibilidades que a tecnologia poderia proporcionar. Vislumbrava-se um mundo possível onde toda a energia seria canalizada para manter a paz, a união e a estabilidade das relações entre os mundos e as pessoas.
Pergunte-se: Onde termina a ficção? Onde começa a realidade?
Todos os dias, os noticiários transmitem informações sobre a crescente violência urbana e o aumento das diferenças de classes, ao mesmo tempo em que o público é levado a respirar esperança, desejo de conforto, anseio por descobrir novas formas de comunicação, transporte, cura de doenças e aumento da qualidade de vida.
Hoje o mundo assiste uma (r)evolução tecnológica sem precedentes na história. É só analisar a história da evolução humana, e o "boom" tecnológico que vivemos em menos de um século de história desde a corrida espacial, quando a miniaturização dos mais diversos aparelhos se tornou cada vez mais necessária. E a cada dia que passa o processo se acelera. Novidades surgem a todo instante com as novas pesquisas e descobertas nos mais variados campos do conhecimento.
Poucos anos atrás, ter um computador era uma idéia remota para a maioria da população. E quem imaginaria circular por diversos lugares, ao mesmo tempo em que poderia conversar e visualizar pessoas distantes? Aos poucos, com o advento de novas tecnologias, abertura de mercados e redução nos custos de produção, torna-se cada vez mais difícil para muitos ficar sem algum tipo de meio de comunicação, seja pelo celular ou através de um terminal de computador.
Relacionamento, essa é a palavra chave! A necessidade de estar no mundo, fazendo-se presente na vida de outros e sentir-se parte dela, mesmo que não seja com a presença física, mas pelo menos através da lembrança constante.
Sim, a esperança de não ser esquecido, ou melhor, o desejo de sempre ser lembrado, leva à busca de contato com o maior número de pessoas possível. Foi assim que o ORKUT se tornou o maior símbolo de relacionamentos virtuais depois do e-mail e dos comunicadores instantâneos (leia-se MSN, SKYPE, entre outros).
O acesso cada vez maior aos recursos tecnológicos de comunicação e informação proporciona que se explorem diversos estímulos a serem enviados uns para os outros através mensagens de texto, sons, imagens e vídeos.
Com a popularização das câmeras fotográficas digitais compactas, que trazem recursos cada vez mais sofisticados, fotografar ou filmar a vida, as pessoas, momentos que se quer perpetuar de algum modo, torna-se algo mais do que necessário a cada dia.
Imagine que a necessidade de registrar, comunicar através de imagens e sons, faz parte da natureza humana desde os primórdios da civilização. No começo, o homem desenhava nas paredes das cavernas e balbuciava os primeiros códigos fonéticos que garantiam uma identidade cultural, identificava um grupo. Hoje, fazendo um paralelo, qualquer um pode se valer de algum tipo de registro utilizando imagem ou movimento. Também é interessante notar que quase instintivamente se mantém o mesmo desejo "primitivo" de ser reconhecido, de ter uma identidade com o outro, formar grupos, deixar a sua marca, ser lembrado.
Assistimos agora o advento da Era da Convergência Tecnológica. Momento em que a experiência humana é cada vez mais ampliada com a utilização de técnicas e tecnologias aplicadas às diversas atividades diárias, solucionando as mais diversas situações-problema, tornando a experiência humana de viver em verdadeiros desafios e descobertas constantes.
Atualmente, viver nesse mundo exige muito mais do que simplesmente estar nele. É necessário conhecer, aprender, desaprender, reaprender, construir, desconstruir, criar e recriar. Essas são palavras de ordem, de um lado filosóficas, e que de outro se configuram como ações necessárias para garantir um mínimo de condições de relacionamento, e mesmo sobrevivência, no mundo e com o mundo, entre as pessoas.
Mas, voltando à reflexão apresentada no início deste texto, sobre a apresentação da obra de Aldous Huxley, pergunte-se até que ponto essas questões foram respondidas ou se ainda estão à espera de uma resposta. E, ao refletir, considere a possibilidade de que a resposta não está “lá fora”, mas dentro de cada um de nós. Elas dependem mais das atitudes e papéis que assumimos viver cada dia, a cada novo ano.
Viver e conviver será muito melhor, ou não, dependendo da maneira como realmente se é capaz de ser/estar no mundo, do que fazer nele e por ele, em benefício de todos!
Professor Rooney dos Santos Souza
Arte-Educador / Pedagogo (Psicopedagogia)
Orientador para Uso de Tecnologias na Educação. Professor Tutor Local nos cursos de Licenciatura em Pedagogia da UNIDERP Interativa, em Corumbá-MS. Professor de Artes na Rede Municipal de Ensino de Corumbá-MS. Consultor em Informática e Educação.